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Lisboa é, sem sombra de dúvida, e sem desprimor para outras cidades, uma cidade lindíssima e com uma alma cheia.
Se no Verão apetece aproveitar a luz e o calor da cidade, no Inverno o chamamento não é menor. Passear nesta altura traz saborosas memórias de infância, onde a incursão familiar a Lisboa incluía uma ida ao cinema Tivoli ou ao S. Jorge.
O cheiro das castanhas assadas a vaguear pelo ar, a iluminação de Natal nas ruas da Baixa e do Chiado, e o bulício das pessoas que passam nas ruas aquecem-me a alma apesar do frio que invade a capital.
Que bommmmm...
Começaram os meus 15 dias de silly season (oficialmente, que durante todo o ano há sempre algo de silly na minha vida)!
E durante esta primeira semana, vou estar ao sol a preparar algumas coisas para a segunda... E vai incluir Lisboa! Espiolhar, explorar, investigar...
E este presente de aniversário está a abrir-me o apetite... Agora para ler e depois para pôr em prática... O livro e o 28...
A capital do Império é uma cidade linda, sem dúvida. Há algo de mágico, principalmente quando o sol aparece e a faz brilhar ainda mais.
Este fim-de semana redescobri os encantos de uma zona da cidade que aparentemente não envelhece: Campo d'Ourique. Deve ter qualquer coisa de especial este bairro, pois até o terramoto de 1755 poupou esta zona da cidade à catástrofe (daí a expressão "rés vés Campo d'Ourique").
Respira-se vida de bairro no quotidiano de Campo d'Ourique, e de comunidade. E não é só uma determinada elite que habita o bairro. Há pessoas de todas as idades e de vários escalões de IRS a circular pelas ruas. As crianças brincam e correm no agradável Jardim da Parada. Há velhotas a alimentar os pombos. Há gente jovem nos cafés mais trendy e nos mais tradicionais.
Há lojas giras e inteligentes nas ruas, e não confinadas ao ar condicionado e iluminação artificial de um qualquer Centro Comercial, e para todas as bolsas. E mais, convivem com a tradicional drogaria e mercearias centenária, todas com cliente que lhes permite sobreviver de uma forma, diria eu, sustentável (a palavra da moda)./p&g
t; /p>Há onde comer para todos os gostos, do restaurante do minhoto migrado nos anos 40 à focacceria de um verdadeiro italiano, passando pela tradicional cervejaria (esse estabelecimento tão português) aos bivalves francófonos (se bem que para mim nada bata a criação do Sr Bulhão Pato). E depois há o Mercado de Campo de Ourique, onde cada um pode satisfazer as suas diferentes preferências gastronómicas em conjunto.
E logo ali abaixo à um democrático oásis de frescura, que nos permite refugiar do calor da capital, o Jardim da Estrela, saboreando um gelado da vizinha Artisani (que compete fervorosamente na variedade e sabor com a concorrência recém chegada de Cascais, a Santini). E os turistas que nesta altura proliferam por Lisboa já descobriram estes prazeres...
(Próximo fim-de-semana vou apanhar o eléctrico 28...)
Sábado estreei-me nas Festas de Lisboa. Foi a primeira vez que saí na noite da capital para os festejos populares do santo padroeiro, dos quais já tanta havia ouvido falar pela boca de amigos. E correu muito bem (tão bem que ontem a ligeira dor de cabeça não me permitia articular palavras com mais de 4 sílabas, quanto mais escrever um post!!!).
Guiado por amigos "habitués", mergulhei nos arraiais e bailaricos do típico bairro da Bica, não na noite em que "era suposto", mas na noite a seguir. E este último dado não pode ser descurado, pois tem a sua influência para o desfecho da noite: tomando a analogia da sardinha, o cartaz e ícone das Festas, não ir na véspera de Santo António evita que nos sintamos fechados numa lata, mas a nadar suavemente em cardume (e eu já tinha essa experiência e ensinamento de uma outra tradicional - pelo menos na cidade onde nasci - manifestação de folia popular colectiva); para além disso, os verdadeiros fiéis da festa, os que verdadeiramente dão alma à "coisa" e a tornam única, estão lá na mesma, pois a sua "devoção" assim o dita e exige. Por isso, tem tudo de bom: o espírito está presente e a moldura humana é o quanto baste (e não a demoníaca e incontrolável horda de foliões, razão evocada por muitos - uns acredito que de forma genuína, outros com algum pedantismo à mistura - para não se meterem nestas manifestações culturais).
Deambulámos pelas ruas, becos e vielas. Saboreámos tudo a que tínhamos direito, desde a sardinha assada, à entremeada (é chique nos santos populares mantermos um prato de peixe e um prato de carne na refeição... se há que fazer, que se faça com estilo! :)), passando pela salada de pimentos e pelo chouriço assado. Ouviram-se "estórias" de santos passados, da boca de quem vive as Festas intensamente e já aguarda ansiosamente pelas do próximo ano.
O momento alto da noite teve lugar na Calçada da Bica Grande, onde a meio da rua, num andaime à altura de um primeiro andar, actuava uma despretensiosa e assumida banda de covers popularucha (leia-se, pimba).
E eu adorei as Festas de Lisboa e a Bica... Porque naquela noite a Bica era democrática (vá, mais uma espécie de anarquia organizada - estranho conjugar estas duas palavras, eu sei!!!), com uma vontade colectiva de diversão... Porque a Bica naquela noite não tinha classes sociais nem tribos. Ter, tinha, mas estavam era todas misturadas... O "beto" da Lapa e de Campo d'Ourique, o "gajo" d'Alfama, o "queque" do Restelo, o "dread", a classe média de Telheiras, os novos intelectuais da Baixa/Chiado... Tudo misturado, de sorriso na boca e ginga na anca! Ai, minha gente, quando nos esquecemos de onde vimos não sabemos o que somos...!
E por isso também eu gritei, muitas vezes... "a Bica é liiiindaaaa!"