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Adoro ouvir as conversas alheias! Não tenho vergonha de o assumir (se calhar devia)... É um passatempo interessantíssimo, que me diverte imenso. Ouço as histórias e invento o resto. Imagino as situações e preencho os espaços em branco. Defino o perfil de cada um dos personagens pela "pinta" e pelo discurso, os alphas, os controladores, os revoltados, os submissos.
Viajo na vida dos outros (como se a minha não fosse já per si agitada e confusa). Hábitos da minha infância e juventude de província, onde para o bem e para o mal, tudo se sabia e tudo se comentava. Se por um lado não podíamos pôr o pé em ramo verde, por outro, em caso de necessidade havia sempre alguém para nos ajudar. A minha filha, suponho que por influência genética paterna, é igual. Mas nos seus tenros 8 anos, fica estacada a olhar, perplexa com o que ouve. Estou num impasse: corrijo-a ou ensino-lhe às técnicas que fui desenvolvendo ao longo dos anos para passar despercebido???
Mãe e filha aproximam-se da mesa das amigas, com uma média de idades a ultrapassar os 60 entre as duas gerações. Os cabelos, acabados de sair do cabeleireiro, não mexem apesar da brisa que se faz sentir. Abençoada laca. Tanta experiência e sabedoria de vida promete...
- Zézinha, como está, querida? -
- Olhe, como os interruptores: umas vezes para cima outras vezes para baixo!
Mentalmente ajoelho-me e presto homenagem a esta sabedoria da minha província! Adoro! Amo esta terra!
A capital do Império é uma cidade linda, sem dúvida. Há algo de mágico, principalmente quando o sol aparece e a faz brilhar ainda mais.
Este fim-de semana redescobri os encantos de uma zona da cidade que aparentemente não envelhece: Campo d'Ourique. Deve ter qualquer coisa de especial este bairro, pois até o terramoto de 1755 poupou esta zona da cidade à catástrofe (daí a expressão "rés vés Campo d'Ourique").
Respira-se vida de bairro no quotidiano de Campo d'Ourique, e de comunidade. E não é só uma determinada elite que habita o bairro. Há pessoas de todas as idades e de vários escalões de IRS a circular pelas ruas. As crianças brincam e correm no agradável Jardim da Parada. Há velhotas a alimentar os pombos. Há gente jovem nos cafés mais trendy e nos mais tradicionais.
Há lojas giras e inteligentes nas ruas, e não confinadas ao ar condicionado e iluminação artificial de um qualquer Centro Comercial, e para todas as bolsas. E mais, convivem com a tradicional drogaria e mercearias centenária, todas com cliente que lhes permite sobreviver de uma forma, diria eu, sustentável (a palavra da moda)./p&g
t; /p>Há onde comer para todos os gostos, do restaurante do minhoto migrado nos anos 40 à focacceria de um verdadeiro italiano, passando pela tradicional cervejaria (esse estabelecimento tão português) aos bivalves francófonos (se bem que para mim nada bata a criação do Sr Bulhão Pato). E depois há o Mercado de Campo de Ourique, onde cada um pode satisfazer as suas diferentes preferências gastronómicas em conjunto.
E logo ali abaixo à um democrático oásis de frescura, que nos permite refugiar do calor da capital, o Jardim da Estrela, saboreando um gelado da vizinha Artisani (que compete fervorosamente na variedade e sabor com a concorrência recém chegada de Cascais, a Santini). E os turistas que nesta altura proliferam por Lisboa já descobriram estes prazeres...
(Próximo fim-de-semana vou apanhar o eléctrico 28...)
Fui à minha tradicional tosquia estival e diz-me o barbeiro, enquanto sopra todo o velo cortado:
- Sabe, vir ao barbeiro é como ir à praia... Leva-se sempre um pouco de areia para casa!
Sorrio... Noto um certo brio profissional e orgulho no comentário. Deve haver uma cadeira específica no curso de barbeiro: "Piadolas e ditados populares". E deve dar precedência a outras duas: "comentários da bola I e II" e "dissertações sobre o tempo e a evolução da climatologia desde a Segunda Grande Guerra"!
Ontem estava a falar com uma colega num dos corredores do escritório.
Abre-se a porta da rua e entra uma outra colega que, alegre e bem disposta como é seu apanágio, dá os bons dias.
- Bom dia Joana! - respondi eu.
E assim, vindo do nada, sem qualquer sinal ou queixa de enjoo matinal, ou de outro sintoma que tal por parte desta Joana, a outra colega pergunta:
- Está grávida, Joana?
- Não, não estou... - fechou o sorriso e continuou o seu caminho.
Alguém me explica porque é que há mulheres que têm prazer em serem umas cabras para as outras?!
Sou adepto fervoroso deste cumprimento.
Não sei que raio de explicação evolucionária haverá para este ritual humano presente em tantas culturas, mas que tem vingado ao longo dos tempos. Ainda resiste. Mas mais do que o corriqueiro, e circunstancial, beijo na face entre conhecidos de sexo oposto, ou entre senhoras, fascina-me o beijo entre homens.
Porquê? Porque socialmente provoca pasmo, e às vezes indignação. Porque é sinal de uma forte ligação afectiva, que não se importa com os comentários alheios.
Eu, por exemplo, ainda hoje beijo os irmãos dos meus pais na face... Eu com quarenta e eles na casa dos setenta. Às vezes estendem-me a mão, para me cumprimentar, mas não desarmo. Aperto com veemência e avio-lhes um beijo. Tomem lá! Sorriem e amolecem logo a seguir...
E hei-de fazer isso aos meus sobrinhos, já a cair da tripeça! Hei-de os fazer passar vergonhas em frente às namoradas...
Mas tenho a certeza que me hão de entender... Ou então perdoar!
Hoje de manhã voltei a fazer cócegas aos meus filhos.
Desde tenra idade que lhes fiz cócegas. Daquelas de eles terem de pedir para eu parar... mas de pedirem mais, passados 5 minutos!
Adoro ouvir aquelas gargalhadas descontroladas! Sentir aquelas endorfinas a galopar nos seus corpos! Torna-se contagiante e eu próprio, que tenho uma expressão facial naturalmente sisuda (e bicos para baixo, como eles dizem) me rio de tanta felicidade!
E é a forma mais eficaz de quebrar o ar sério de qualquer início de birra... Desmonta a firmeza da teimosia e deixa-os permeáveis ao racional...
Só espero que nunca deixem de ter cócegas...
A minha alma "alimenta-se", em parte, com o sucesso dos que me rodeiam, sejam eles pares ou subordinados. Fico feliz e contente quando acompanho as suas vitórias e a sua dedicação para lá chegarem.
Mas deparo-me com tantas pessoas que retiram o mesmo prazer das derrotas alheias, principalmente dos pares, e que nunca são capazes de ser compassivos, nem de dizer "parabéns", "bom trabalho"...
Alguém me consegue explicar...
(P.S. - e eu sei que tenho uma língua afiada, mas ainda assim, porra!)
Tenho que decidir a minha vidinha e saber quais são os dias em que os miúdos também vão e os que vão visitar as avós (que estão a morrer de saudades...)