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Com uma entrevista muito interessante, não percebo esta chamada para título.
Em primeiro lugar, porque a orientação sexual de cada um é algo acessório (digo eu), mas dou essa "de graça" porque o assunto é abordado no texto. Em segundo lugar porque o sentido das palavras do entrevistado parece-me deturpado... Não é ser gay que é (ou foi) uma vantagem: o que foi uma vantagem foi ter sido sincero consigo próprio e com os outros em relação à sua orientação sexual. Mas isso é outra coisa, é o equilíbrio que temos quando aceitamos o que somos e o defendemos.
Mas posso ser eu a ver (ler) mal as coisas...
Eu sou um evolucionista por convicção. Penso sempre nas coisas e acontecimentos que me rodeiam como fruto da conjugação de vários factores "ambientais" (no sentido do meio que as rodeia e não propriamente do "efeito de estufa").
Este fim-de-semana, entre amigos com prole, levei essa minha curiosidade a um ponto que me incomodou um pouco, porque dei por mim a entrar na intimidade dos meus pares: a procriação! Eu vou tentar explicar porquê, até mesmo para limpar alguma imagem de voyer ou mais kinky que esteja a surgir na vossa cabeça acerca de mim.
A minha formação académica de base são as ciências da vida (biologia, em particular a zoologia), e na análise das espécies temos sempre de levar em conta a sua reprodução. Acontece que ao longo de milhares de anos todas as espécies, principalmente as que vivem acima (ou abaixo) dos trópicos, em que há estações do ano com assimetrias vincadas, desenvolveram épocas específicas para se tornarem sexualmente mais activas com o objectivo da perpetuação da espécie. O objectivo comum é terem as crias na época em que há mais recursos disponíveis para as alimentar, ou seja, na Primavera. Ora, basta recuarmos no calendário o número de semanas que dura a gestação de determinada espécie para se determinar a época do ano em que as fêmeas ovulam e se tornam receptivas aos machos, e os machos ficam mais activos nas suas actividades para serem "os eleitos". É assim que acontece na natureza...
E nós humanos?! Estamos fisiologicamente preparados para reproduzir o ano todo, é certo, e não estamos dependentes da Primavera para ter recursos para a prole (as farmácias e hipermercados têm leite de substituição e papas o ano todo). Mas ainda assim, será que não há nenhuma sazonalidade na natalidade? Será que não uma época do ano em que sejamos sexualmente mais activos?! Afinal de contas é bem conhecido o efeito que o sol tem na hipófise dos humanos, e o tom bronzeado da pele aquece muitas alminhas...
Pesquisei no Google a sazonalidade da natalidade e saíram algumas coisas curiosas. Há, de facto, alguma sazonalidade nos nascimentos (e que coincide com os meses das colheitas... He he he). Partem de um mínimo no Inverno (Janeiro, Fevereiro e Março), atingindo um pequeno pico em Maio, seguindo numa escalada impressionante até Setembro, o mês com mais nascimentos. A partir daí, caiem abruptamente para os valores mais baixos do Inverno, novamente.
Se deslizarmos este gráfico 9 meses para trás, temos que a época do ano mais procriativa (na parte lúdico-recreativa da concepção) em Portugal está situada entre os meses de Agosto e Dezembro! Ou seja, o efeito do principal mês de férias dos portugueses mantém-se pelo Outono, e culmina com o Natal e a passagem do ano, originando o pico da natalidade em Setembro!
E não deixa de fazer sentido, ora reparem: Agosto e Setembro com as férias, as festas e os corpos bronzeados; Outubro e Novembro, com dias mais curtos e frios a convidar a passar mais tempo em casa, aconchegados; Dezembro, mantendo-se a tendência do aconchego no lar, acresce o agradecimento especial à pessoa amada por aquele presente especial no Natal, e a passagem do ano, onde as bebidas ingeridas, e a euforia dos votos de felicidades, podem levar a que seja negligenciado o uso de métodos contraceptivos! ;)
E é bem possível que um conjunto de fenómenos desde a ressaca da passagem de ano (Janeiro) até à entrega do modelo 3 do IRS (Abril e Maio, conforme haja ou não rendimentos auferidos por trabalho independente), inibam a actividade reprodutiva dos portugueses...
Em relação aos meus amigos, e na recolha da amostra que fiz no fim-de-semana, até os que saiem deste padrão têm justificação! Um grande amigo meu dizia que ambos os filhos nasceram em Novembro, como que desmontando a minha teoria... O meu conselho foi que ele, grande folião, bebesse menos por alturas do Carnaval (sou originário de uma terra que celebra em grande o Entrudo, que normalmente calha em Fevereiro, 9 meses antes do mês de Novembro). Et lasse...
Para além das borboletas no estômago, apercebemo-nos de que alguém é de facto importante para a nossa existência quando involuntariamente assimilamos as suas expressões e as tornamos nossas... Como se sempre tivessem feito parte da nossa essência e da nossa maneira de estar...