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O tema voltou ao debate pela voz do PAN, BE e PCP, e continua a incendiar as facções extremistas. Eu, que faço parte da "maioria silenciosa", quebro o dito silêncio.
Hoje em dia acredito que os netos dos nossos netos serão todos vegetarianos, e que a proteína semelhante à animal que irão ingerir será sintetizada... Mas ainda não é assim, e entendo e aceito a criação de animais para a nossa alimentação (e o aproveitamento dos subprodutos, como as peles para vestuário e calçado, quando esse não é o objectivo primário da criação animal, como é o caso das chinchilas e as raposas que são criadas com o exclusivo intuito de se aproveitar a pelr). No entanto, e mesmo sendo um rude e simplório homem da província e da lavoura, espectáculos com sofrimento animal, para mim não dá: é desumano.
E não me venham com o argumento que é cultura... Sim, é, mas até a cultura às vezes está errada... Não?! A cultura romana também tinha como espectáculo luta de gladiadores até à morte e pessoas devotadas por leões... Era cultura, mas, pelo menos para mim, incomoda-me a ideia.
Não gostaram do exemplo? Está desactualizado, é verdade... Dou outro mais actual, então. Por exemplo, a excisão feminina também faz parte da cultura de alguns povos... E eu concordo com isso? Não, definitivamente não! Por isso, às vezes a cultura está errada... Até pode nem ser errada, pode apenas está fora do seu tempo.
Indo às origens da festa brava, está uma mostra de valentia e virilidade, e o treino militar, seja ele apeado ou a cavalo. Convenhamos que a cavalaria hoje é mecanizada, não se usam lanças nem espadas, mas peças de artilharia de diferente calibre. Em relação aos infantes (os soldados de infantaria), hoje em dia já não usam espadas, e o combate corpo a corpo pode ser treinado de outra maneira... Ou sejs, o intuito primordial da Tourada desapareceu! E quanto à prova de valentia, façam queda-livre, cannyoning, etc...
E em relação ao aspecto cultural, acho que estamos falados, não?
Depois, temos o argumento do (supostamente) inexistente sofrimento do animal. Sofre, sim. O animal sofre com'ó diabo... Por alguma razão ele sai dos cursos com aquela gana de "saiam-me da frente!"... Acreditem que não é por estar tranquilo. Logo aí, está em sofrimento. Tiram-no da lezíria, onde é livre, e espetam-no num redondel, apertado, onde estão gajos de leggings cor-de-rosa e pom-pons na cabeça à espera dele... Até eu sofria!
Mas o sofrimento não é só stress... É que entretanto entra um fulano a espetar-lhe pontas de ferro no dorso. E por mais espesso que seja o couro do animal (e é), aquilo dói. A reacção do touro a cada bandarilha não é só por causa de comichão ou da impressão que faz ter uma coisa ao dependuro do dorso.
Por isso, o argumento da ausência de sofrimento é ridículo. Há sofrimento, e não é pouco. Mas pior do que haver sofrimento per si (que já é de nos deixar pensativos), é haver sofrimento para deleite e gáudio de uma determinada quantidade de pessoas. Uns sofrem e os outros aplaudem? Hmmmm... Pode ser impressão minha, mas há algo de errado nesta equação...
E só para terminar, há o argumento da subsistência da raça bovina brava... Que, não fosse a "festa brava", esta raça especifica deixaria de ser criada e desapareceria, porque é péssima para a produção de carne ou de leite. Ouçam, apenas nalguns sítios os burros são ainda usados para trabalho e não é por causa disso que os asininos desapareceram, pois não?
E a hipótese de ver a bravura e a nobreza do touro durante a lide? Meus amigos, vão à lezíria vê-los! Não é preciso andar a atormentar o bicho, porra!
No fundo, o que faz persistir a tourada é o facto de ser um negócio para alguns, um evento social para outros e ainda uma forma de afirmação de classe e grupo social, e tudo a expensas do raio do bicho... Mas em pleno século XXI temos alternativas sem provocar sofrimento desnecessário...
Por isso, deixem o raio do touro em paz, por favor...
Mas atenção, os circos com animais, nomeadamente selvagens, não são muito melhores...